sexta-feira, 20 de novembro de 2009

“CICIA” - UM DOS ANJOS DA MINHA INFÂNCIA

Minha mãe sempre trabalhou muito e, por isso, precisava de alguém que a ajudasse a cuidar da casa e dos seis filhos pequenos. Minha tia querida ajudava bastante, mas era apenas uma menina e não podia assumir tamanha responsabilidade. Assim, sempre tinha alguém trabalhando em nossa casa.

Muitas pessoas passaram em nossas vidas: Cecília, Chiquinha, Cacilda, muitas Marias, Leida, Elza, Lourdes, Sílvia, Nenem, Zuleide, Fátima, Helena, Lili, Graça, Naná, Zélia, Valdenice, Tereza, Lúcia e muitas outras. Era alta rotatividade mesmo, pois bastava uma queixa nossa (devidamente comprovada, claro!) para a minha mãe trocar de auxiliar. Assim como uma leoa, ela defendia os filhotes com unhas e dentes, não admitindo maus tratos ou que nossa educação fosse desvirtuada (aliás, ainda hoje minha mãe continua uma “leoa”).

Sem dúvida, porém, a mais especial de todas foi Cecília, um anjo adorável que viveu muitos anos conosco, recheando a nossa infância de doçura, afeto e dedicação. Tratava-nos com tanto carinho, como se fôssemos os filhos que nunca teve.

Era uma mulher simples, castigada pelas durezas da vida, de meia idade (talvez), baixinha, pele queimada do sol, sem a mínima vaidade, mas sempre com um sorriso no rosto. Solteira, sem instrução, sem família (nenhum parente ou amigo), sozinha no mundo, apenas com sua fiel companheira Baleia, uma cadela baixeirinha, roliça, com os olhinhos bem atentos e sempre por perto.

“Cicia”, como a chamávamos, era um verdadeiro poço de paciência, dedicação, ternura e delicadeza. E não exagero ao afirmar que ninguém mais, além da minha mãe (que é muito mais que demais!), cuidou de mim com tamanha paciência, carinho e atenção como ela.

Lembro-me tanto do seu olhar doce, sua voz meiga, suas mãos calejadas, mas cheias de suavidade e cuidado ao lavar e desembaraçar meus cabelos longos, por exemplo, para que eu não sentisse desconforto (sempre tive o couro cabeludo dolorido). E essa dedicação toda era partilhada igualmente com cada um de nós, como só uma verdadeira mãe faz.

Sempre penso em Cecília com muito carinho, amor, gratidão e saudade. Para mim ela é um símbolo de desprendimento, de amor-doação, pois dedicou sua vida toda aos outros (incluindo seus bichinhos - Baleia e outros cãezinhos que vieram depois). Tenho certeza que a nossa “Cicia” está iluminando o firmamento com sua luz angelical.

Jandira.
nucoli@yahoo.com.br

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